segunda-feira, 28 de outubro de 2013

nós somos tudo




Algumas preciosidades como estas escaparam à minha fúria de limpeza. 
Textos e fotografias que testemunham 15 anos de vida no chamado "terreno", esse lugar onde os humanos se encontram para se reconhecerem irmãos. 
Quase tudo varrido do meu computador, naqueles dias em que tudo o que passou já não conta, só vale a vontade de recriar constantemente tudo de novo. Naqueles dias recheados com o compromisso de refazer a magia do encontro entre iguais. 
Algumas pérolas escaparam: aqui deixo uma partilha de uma oficina para adultos, 2006, Tábua, e umas fotos de uma oficina para adolescentes, 2008, Sesimbra.    

C.Z. (Fem.), Tábua, 2006
(...) Tornaram-se para mim um casamento perfeito – palavra e música; “orquestra de palavras”. A palavra transformou-se numa música , com as quais se podem “compôr” sinfonias tão diferentes, tão expressivas e tão sentidas...
Esta oficina suscitou muitos sentimentos em mim. Uma alegria, um contentamento, uma felicidade incrivéis... só com a força das palavras... Um sentimento inexplicável; uma, não sei se alegria se tristeza... vou chamar-lhe apenas de sensação bastante prazerosa, forte muito forte...dentro de mim, para mim... disso tenho a certeza era para mim!!
Só com a força das palavras ... Uma leveza e bem-estar incríveis que as palavras me provocaram... Só com a força das palavras ... Momentos de grande aprendizagem, tanto a nível pessoal, como com os colegas presentes...
Com as palavras, as mais simples, vi, senti e percebi fraquezes, alegrias e até conheci um pouco mais da personalidade dos presentes.
Apercebi-me das capacidades que tenho e que todos temos enquanto leitora(es) e ouvinte(s). Aprendi várias formas ler, interpretar e o quanto isso influencia, tanto quem está a ler como quem está a receber essas palavras, pois elas têm força!! O toque, o olhar, o tom, o sentimento, tudo são factores que influênciam a leitura e o prazer que ela nos traz e que podemos provocar...
“A palavra é metade de quem a pronuncia, e metade de quem a ouve.” (Michel Montaigne)
A música fazia-me viajar pela melodia dos acordes... as palavaras, sem dúvida, tiveram também essa força, e que força!! Deram-me o prazer de fazer outro tipo de viagem... também ela muito profunda.
Durante a leitura colectiva do poema “ A pequena caixa”, em que eu estava no papel de ouvinte (de olhos fechados) senti um embalo que nunca pensei que as palavras me podessem proporcionar... Toda eu me sentia  embalada dentro de um barco...isto só com a força (colectiva) das palavras !! Incrível...
O balanço que faço,depois de uma reflexão profundamente sentida, é bastante positivo. Sinto qué é necessário e bastante pertinente este tipo de iniciativas, dado vivermos numa sociedade onde os padrões de vida se centram cada vez mais no Eu egoísta, individualista... e ao mesmo tempo na solidão, num stress permanente. Estas dinâmicas fazem-nos reflectir sobre tod@s e tudo  aquilo que nos rodeia. Faz-nos ver o outro Eu, sensível, despreocupado... Sentir a felicidade plena que está tão perto de nós e que não conseguimos ver. Permite uma troca de experiências a vários níveis, tanto literário, como sensorial, que para mim é bastante importante para o desenvolvimento do ser Humano, somos pessoas, não máquinas!!! Aqui criam-se laços afectivos, esqueçemos o tempo, enquanto dinheiro, enquanto perda... pelo contrário... criamos de uma forma informal, aprendemos com a brincadeira... o real, aquilo que está tão perto e porque esta vida cada vez mais sem sentido nos faz perder. Aprendemos a ser nós próprios sem preconceitos, sem medo de errar, sem medo do rotúlo... somos levados à pura inocência de ser criança outra vez !!! Aquela que vê, ouve, explora... sem medo de se perder...
E sem saber o porquê... tudo faz sentido... porque: NÓS SOMOS TUDO!!   (C.Z.-2006)












segunda-feira, 14 de outubro de 2013

lá dentro, há tudo o que eu preciso

Confesso que tenho dirigido muito pouca energia à recolha das partilhas que as pessoas fazem durante as sessões que oriento. O título deste post é o testemunho de um menino, numa oficina realizada no Porto, Teatro do Campo Alegre. Depois de fazer uma viagem de imaginação sensível ao coração, ele escreveu: é estranho, lá dentro, há tudo o que eu preciso. E depois explicou que tinha visto os pais, irmãos, amigos e até um brinquedo preferido. Como disse Novalis, quanto mais poético, mais verdadeiro. Uma outra menina, já não sei em que terra foi, imaginou um barco de pedra e estava contente com aquele aparente paradoxo: apesar de ser de pedra, o barco flutuava e ela sentiu-se muito leve!

Para tapar uma fresta desse enorme buraco, aqui ficam algumas partilhas recolhidas em 2009 na Biblioteca do Fundão. Oficina "O Planeta Almalavras"
(Sistema Artístico e Pedagógico ORQUESTRA de PALAVRAS).

(e se tiverem textos ou fotos de sessões em que tenham participado, mandem-me por favor)


 









AQUI FICA O LINK PARA O CATÁLOGO DE ACTIVIDADES PRÉ-FORMATADAS

http://en.calameo.com/read/002523909e03f34bdbbe4










quinta-feira, 10 de outubro de 2013

IMAGINAÇÃO SENSÍVEL : o elo perdido


Haverá muitas razões que justifiquem a insatisfação que assola as nossas escolas mas para além das ideologias e das psicologias há um factor biológico determinante. 
Todas as variantes do sistema actual estimulam quase em exclusivo a área do cérebro que controla a lógica formal, o pensamento racional e a linguagem verbal. 
E nas cada vez menos disciplinas que estimulam a área responsável pelas sensações e capacidades empáticas do indivíduo, nenhuma tem um método destinado a conectar essas duas metades da nossa vida, produzindo aquilo a que subjectivamente chamamos de um sentido: um fio condutor que nos dá a sensação de pertencer a algo maior do que nós, um mundo, uma comunidade, etc.

    
A escrita e a leitura são tecnologias ideais para recuperar esse equilíbrio biológico, desde que atenuemos a intelectualização de que foram alvo e introduzamos técnicas que se foquem na nossa capacidade de imaginar, e de sentir o que estamos a imaginar, durante o acto de ler ou de escrever
A verbalização e partilha dessa experiência (modulada por certas regras) conclui o processo de conectar as áreas cerebrais opostas. 
Ao unir as duas, unimos a percepção do Eu e do Outro. 
Subitamente, em vez criticar, competir, manipular, ficamos mais interessados em apoiar, cooperar, harmonizar. Vivenciar a beleza humana, a partir do seu interior.