segunda-feira, 12 de maio de 2014

O Tesouro de Pombal

Todos os anos, em Maio, Pombal revela o seu Tesouro. Um cortejo de maravilhosos seres, normalmente humanos, naturalmente diversos, saudavelmente enlouquecidos pelo amor que lhes brota pelos poros. Miúdos e graúdos, fininhos e espadaúdos, andam ali à volta de palavras e livros e sensações e reflexões e diversões; e, não sendo, são todos irmões. Até na liberdade de mudar as terminações.


A poesia do mundo somos nós dentro de nós a pôr-nos cá fora como morangos prontos para as papilas. Pois somos papoilas quando a nossa cor sobressai nos campos chamando moços e moçoilas . E é isso que faz o encontro nacional (internacional) de literatura infanto-juvenil: chama, espanta e encanta todos os que ainda o não conhecem e até os que, como eu, há muito lhe são íntimos.
Apesar da famosa La Crise, apesar das dificuldades por que todos passam, houve ainda mais partilha, ainda mais conexão, ainda mais emoção, ainda mais humildade e sentido de unidade.



A organização, liderada pela Sónia Gameiro, é insuperável. A logística de um encontro desta natureza, qualidade e grandeza é de tal ordem que só é gerível com enorme grau de profissionalismo e disponibilidade humana; e um sorriso nos lábios, apesar do extremo cansaço.



Para além de tudo o mais, eu tive o privilégio de brincar com meninos do 2º, 3º e 4º anos, e de lhes dar a conhecer a menina elegantina. Imaginámos, falámos, ouvimos, sussurámos, dançámos, rimos, gritámos, e chamámos a calma interior. No fim também li aos professores, educadores e mediadores de leitura que por ali abundam, e pude confirmar o que já sabia de outras andanças: que Portugal ainda tem muitos adultos que não deixaram secar a sua criança interior; ainda rejubilam quando o imaginário infantil lhes ressoa dentro das células.
Com a minha enorme gratidão a todos quantos participaram nesta festa, e à Câmara de Pombal que a tornou possível, aqui vos deixo quatro fotos elegantinas que a Dora Batalim tirou, no casulo da hora do conto da Biblioteca Municipal de Pombal.




segunda-feira, 28 de outubro de 2013

nós somos tudo




Algumas preciosidades como estas escaparam à minha fúria de limpeza. 
Textos e fotografias que testemunham 15 anos de vida no chamado "terreno", esse lugar onde os humanos se encontram para se reconhecerem irmãos. 
Quase tudo varrido do meu computador, naqueles dias em que tudo o que passou já não conta, só vale a vontade de recriar constantemente tudo de novo. Naqueles dias recheados com o compromisso de refazer a magia do encontro entre iguais. 
Algumas pérolas escaparam: aqui deixo uma partilha de uma oficina para adultos, 2006, Tábua, e umas fotos de uma oficina para adolescentes, 2008, Sesimbra.    

C.Z. (Fem.), Tábua, 2006
(...) Tornaram-se para mim um casamento perfeito – palavra e música; “orquestra de palavras”. A palavra transformou-se numa música , com as quais se podem “compôr” sinfonias tão diferentes, tão expressivas e tão sentidas...
Esta oficina suscitou muitos sentimentos em mim. Uma alegria, um contentamento, uma felicidade incrivéis... só com a força das palavras... Um sentimento inexplicável; uma, não sei se alegria se tristeza... vou chamar-lhe apenas de sensação bastante prazerosa, forte muito forte...dentro de mim, para mim... disso tenho a certeza era para mim!!
Só com a força das palavras ... Uma leveza e bem-estar incríveis que as palavras me provocaram... Só com a força das palavras ... Momentos de grande aprendizagem, tanto a nível pessoal, como com os colegas presentes...
Com as palavras, as mais simples, vi, senti e percebi fraquezes, alegrias e até conheci um pouco mais da personalidade dos presentes.
Apercebi-me das capacidades que tenho e que todos temos enquanto leitora(es) e ouvinte(s). Aprendi várias formas ler, interpretar e o quanto isso influencia, tanto quem está a ler como quem está a receber essas palavras, pois elas têm força!! O toque, o olhar, o tom, o sentimento, tudo são factores que influênciam a leitura e o prazer que ela nos traz e que podemos provocar...
“A palavra é metade de quem a pronuncia, e metade de quem a ouve.” (Michel Montaigne)
A música fazia-me viajar pela melodia dos acordes... as palavaras, sem dúvida, tiveram também essa força, e que força!! Deram-me o prazer de fazer outro tipo de viagem... também ela muito profunda.
Durante a leitura colectiva do poema “ A pequena caixa”, em que eu estava no papel de ouvinte (de olhos fechados) senti um embalo que nunca pensei que as palavras me podessem proporcionar... Toda eu me sentia  embalada dentro de um barco...isto só com a força (colectiva) das palavras !! Incrível...
O balanço que faço,depois de uma reflexão profundamente sentida, é bastante positivo. Sinto qué é necessário e bastante pertinente este tipo de iniciativas, dado vivermos numa sociedade onde os padrões de vida se centram cada vez mais no Eu egoísta, individualista... e ao mesmo tempo na solidão, num stress permanente. Estas dinâmicas fazem-nos reflectir sobre tod@s e tudo  aquilo que nos rodeia. Faz-nos ver o outro Eu, sensível, despreocupado... Sentir a felicidade plena que está tão perto de nós e que não conseguimos ver. Permite uma troca de experiências a vários níveis, tanto literário, como sensorial, que para mim é bastante importante para o desenvolvimento do ser Humano, somos pessoas, não máquinas!!! Aqui criam-se laços afectivos, esqueçemos o tempo, enquanto dinheiro, enquanto perda... pelo contrário... criamos de uma forma informal, aprendemos com a brincadeira... o real, aquilo que está tão perto e porque esta vida cada vez mais sem sentido nos faz perder. Aprendemos a ser nós próprios sem preconceitos, sem medo de errar, sem medo do rotúlo... somos levados à pura inocência de ser criança outra vez !!! Aquela que vê, ouve, explora... sem medo de se perder...
E sem saber o porquê... tudo faz sentido... porque: NÓS SOMOS TUDO!!   (C.Z.-2006)












segunda-feira, 14 de outubro de 2013

lá dentro, há tudo o que eu preciso

Confesso que tenho dirigido muito pouca energia à recolha das partilhas que as pessoas fazem durante as sessões que oriento. O título deste post é o testemunho de um menino, numa oficina realizada no Porto, Teatro do Campo Alegre. Depois de fazer uma viagem de imaginação sensível ao coração, ele escreveu: é estranho, lá dentro, há tudo o que eu preciso. E depois explicou que tinha visto os pais, irmãos, amigos e até um brinquedo preferido. Como disse Novalis, quanto mais poético, mais verdadeiro. Uma outra menina, já não sei em que terra foi, imaginou um barco de pedra e estava contente com aquele aparente paradoxo: apesar de ser de pedra, o barco flutuava e ela sentiu-se muito leve!

Para tapar uma fresta desse enorme buraco, aqui ficam algumas partilhas recolhidas em 2009 na Biblioteca do Fundão. Oficina "O Planeta Almalavras"
(Sistema Artístico e Pedagógico ORQUESTRA de PALAVRAS).

(e se tiverem textos ou fotos de sessões em que tenham participado, mandem-me por favor)


 









AQUI FICA O LINK PARA O CATÁLOGO DE ACTIVIDADES PRÉ-FORMATADAS

http://en.calameo.com/read/002523909e03f34bdbbe4










quinta-feira, 10 de outubro de 2013

IMAGINAÇÃO SENSÍVEL : o elo perdido


Haverá muitas razões que justifiquem a insatisfação que assola as nossas escolas mas para além das ideologias e das psicologias há um factor biológico determinante. 
Todas as variantes do sistema actual estimulam quase em exclusivo a área do cérebro que controla a lógica formal, o pensamento racional e a linguagem verbal. 
E nas cada vez menos disciplinas que estimulam a área responsável pelas sensações e capacidades empáticas do indivíduo, nenhuma tem um método destinado a conectar essas duas metades da nossa vida, produzindo aquilo a que subjectivamente chamamos de um sentido: um fio condutor que nos dá a sensação de pertencer a algo maior do que nós, um mundo, uma comunidade, etc.

    
A escrita e a leitura são tecnologias ideais para recuperar esse equilíbrio biológico, desde que atenuemos a intelectualização de que foram alvo e introduzamos técnicas que se foquem na nossa capacidade de imaginar, e de sentir o que estamos a imaginar, durante o acto de ler ou de escrever
A verbalização e partilha dessa experiência (modulada por certas regras) conclui o processo de conectar as áreas cerebrais opostas. 
Ao unir as duas, unimos a percepção do Eu e do Outro. 
Subitamente, em vez criticar, competir, manipular, ficamos mais interessados em apoiar, cooperar, harmonizar. Vivenciar a beleza humana, a partir do seu interior.





segunda-feira, 30 de setembro de 2013

a felicidade é um estado de espírito


podemos alcançar esse patamar se sintonizarmos o universo interior e o universo exterior na mesma frequência; se deixarmos de vibrar na energia de separação com que nos identificamos; se reconhecermos a beleza interior que nos deu origem e em nós permanece, no cofre sagrado da alma. Com pequenos jogos de imaginação sensível podemos começar a reconfigurar o modo de nos auto-concebermos e de nos ligarmos aos outros; experimentar a sensação de sermos unos com a beleza d´A Criação.  





sábado, 31 de agosto de 2013

Verdade Simplicidade Amor




No outro dia o meu amigo invisível mandou-me um recado por um amigo visível.
Disse estas três palavras, verdade, simplicidade, amor. Eu inspirei mais fundo
e mais fundo entrei num poço onde estavam imensas crianças. 
Todas as crianças que já fui, à espera que as fosse buscar para a luz. 
De cada vez que trago uma, a minha vida fica mais leve e mais profunda. 
Oiço o meu ritmo interior a dar umas risadas inaudíveis. 
A deliciar-se com aromas coloridos, sabores luminosos. 
Hi hi, estou tão perto de mim que quase me vejo.





quinta-feira, 27 de junho de 2013

2 conceitos 2 instrumentos 1 tecnologia


O mundo mudou e o sistema de educação revela dificuldades de adaptação às novas realidades sociais e psicológicas. Emergem palavras chave como criatividade e motivação mas também respeito e disciplina. Como conjugá-los, permitindo aos jovens conquistar o equilíbrio necessário aos desafios do séc. XXI ?

O séc. XX privilegiou aspectos externos do conhecimento, focando-se em resultados e comportamentos, aos quais correspondem verbos como ter e fazer  (opção que objectiva certos aspectos da realidade, torna-os mensuráveis e tenta homogeneizá-los para controlar o desenvolvimento da sociedade). Mas tanto as salas de aula como as ruas mostram uma eloquente insatisfação e um desequilíbrio que não será resolvido enquanto também não dermos atenção aos aspectos internos do conhecimento humano. O que está antes do comportamento, antes do Fazer, antes do Ter: o enfoque no Ser.    

A noção de identidade, individual e colectiva, estrutura a percepção do Ser. Para que o Ser se possa auto-conceber e exprimir plenamente, é necessário convocar os dois grandes sistemas operativos do cérebro: pensar e sentir. A forma como pensamos estrutura a nossa relação com a realidade mas a forma como sentimos também; é a partir dessa interacção que vamos moldando a nossa vida. Quanto mais se perceber e se sentir a si próprio, mais facilidade terá um indivíduo em se relacionar harmoniosamente com os outros: conceber a diferença em termos de complementaridade e cooperação.


ORQUESTRA de PALAVRAS
S I S T E M A   A R T Í S T I C O   E   P E D A G Ó G I C O

2  C O N C E I T O S     2  I N S T R U M E N T O S    1  T E C N O L O G I A

Este sistema baseia-se em dois conceitos: Imaginação Sensível & Consciência Criativa.
A Imaginação Sensível é a capacidade de produzir representações mentais internas acompanhadas de uma experiência sensorial directamente associada.
A Consciência Criativa é a capacidade de reconhecer os processos criativos (operados em conjunto pela mente e pelos receptores sensoriais espalhados pelo corpo) através dos quais combinamos os estímulos que moldam a nossa percepção da realidade.

Se atingirmos um certo grau de concentração (oposto: desconcentração) e descontracção (oposto: contracção), podemos reparar naquilo que estamos a sentir durante o acto de imaginar determinada coisa. Quando descrevemos esse processo, quando o verbalizamos, as áreas do néocortex responsáveis pelo pensar e pelo sentir são postas em interacção através do corpo caloso, activando o nível de consciência de si imediatamente superior. Tal como o hidrogénio e o oxigénio (ambos no estado gasoso) se podem combinar produzindo água (estado líquido), o pensar e o sentir combinam-se de modo a “saltar” para um nível de realidade que não estava presente nas suas isoladas premissas. O exercício produz uma experiência interna que permite juntar à dimensão abstracta do significado uma outra camada, uma sensação individual concreta, e as duas culminam num sentido: um pensamento-sensação que organiza a experiência vivida pelo sujeito.

Utilizar a tecnologia da escrita e da leitura para registar estes processos de imaginação e sensibilidade aos estímulos internos “obriga” o cérebro a ligar os terminais que temos tendência a separar, criando coesão perceptiva. É uma forma de meditação activa, artística e terapêutica, no sentido em que a expressão da alma tem a faculdade de nos acalmar.

A Sensorialização Verbal é a capacidade de interligar o universo verbal e o sensorial, isto é, por um lado, sentir os efeitos da vibração da palavra no corpo; e, por outro, converter as sensações corporais em elementos verbais. E ainda decodificar e registar, sempre através do verbo, a interligação das impressões vindas dos diferentes sentidos, como a côr de um cheiro ou o sabor de um gesto, que vulgarmente designamos por sinestesias. 

A Desprogramação Operacional consiste em fazer as operações a que estamos habituados mas de forma diferente, por vezes aparentemente absurda, obrigando o individuo a olhar ou sentir um determinado universo começando por um outro ponto de partida. Esta atitude, aplicada a diferentes exercícios, abre espaços que enfraquecem as rotinas sinápticas, permitindo novas possibilidades de leitura do mundo.

Todos estes conceitos presidem aos jogos-exercícios do sistema ORQUESTRA de PALAVRAS, num ambiente de concentração descontraída que privilegia a dimensão lúdica e afectiva como motor da criatividade e do conhecimento literário e humano.

http://en.calameo.com/read/002523909e03f34bdbbe4